sábado, 10 de janeiro de 2015

À espera da águia



Tudo muito lentamente, ainda assim, alguma dificuldade para respirar. Um sol lá fora escaldante, sonhos em brisa aqui por dentro. À espera de Bethânia, com o brilho de Laila Garin/Elis Regina guiando minhas impressões pelas ruas do Rio de Janeiro. O lance é conjugar arte e talento e me principiar em realizações, sem tantas sacanagens alheias em tantas auto-sabotagens minhas. A escrita que me alivia no desejo, mas me alicia na qualidade. Também vou, sempre, contra o vento. Dias do sagrado ócio numa fala para a antropologia e meus relatórios do desprestígio... Retorno ao canto voraz de Bethânia para fazer letra no esconderijo da entrelinha. 

Digo publicamente só para mim. Imagem de olhos fílmicos refletida no Paraguaçu - e eu, sorrateiramente vazio, sozinho, pensamento nele, cantarolo o tema de Macabéa, calçadão de Copacabana, entre Calcanhotto e Bethânia, nasço para o ser que não sou e nunca fui e remonto-me em alegorias antropológicas.

É o deserto do insucesso. A poesia do respingo necessário como migalhas que aborto. Falta de vento frente d'água. Sem saudade do que sou. Sem Salvador na alma. Só os olhos fílmicos na morada sem casa. Nada como pertence. 

Canto da águia - voz meio agonia: renascimentos há cinquenta anos. Eu musgo, mudo de mim, perplexo com o talento da menina quase rica que me chamou de muito pobre, arremedou o inglês que nunca tive, criticou minha cafonice e, maravilhosa, conquistou a Globo, curou-se, talvez, dos danos familiares seus. Minimizou a mãe e ampliou o pai... Melhor: orfanizou-se.

Viajar é bem mais longe quando fazemos descobertas... Nada me retira daqui: visão multicolorida entre saber fazer bem e nunca ter tido como fazer...

Digo só para mim à luz do Facebook - porque mesmo intra-interpretado, quero forçar leituras e imaginários sobre um dos de mim que, mesmo sem dizer, precisa ser lido e deveras compreendido como o dia que precisa anoitecer.

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