quarta-feira, 2 de abril de 2014

Para Dorival Caymmi



Guardo-me na perenidade deste aprendizado. Não foi escolar. Aparenta mitificação banal, ou mero personalismo. Mas não. Figura na intensidade de me perceber pertecendo e mais que intensidade, em mim, é a minha necessidade de pertencer.

E é fácil nas paisagens que ele emoldorou em canções, versos, em texto múltiplo, em silêncio... Ali, eu pertenço. E aprendo a querer a preservar a minha vocação popular coletiva, espraiada pelas duras, mas coloridas, ruas da minha vida de soteropolitano. À beira da minha Baía. A Bahia que não sai de mim.

Meu coração cantarola o que a voz não pode não sabe. Apego-me à alegria de poder agradecer. De querer que comemorem, numa forma de síntese, a inventidade negro-mestiça baiana que a obra sem par deste homem revelou ao mundo. Meu peito pronuncia: mestre. Minha pieguice grita: patriarca. A grandeza sussurra: Caymmi.

Eterno aprendizado que me dura a vida. Banho-me nesses mares, refresco-me de orgulho e fé frente aos versos erguidos para minha mãe Iemanjá. E sei da Salvador que nunca existiu e é toda linda naquelas canções. E sei da Salvador que existiu e é toda linda naquelas canções. E sei da Salvador que poderíamos...

30 de abril de 2014 e ele fará 100 anos. Por mais que a burrice não queira, que a falta de memória viole, que a truculência de qualquer política evite, a sua presença é corpo marítimo da nossa história. Marca indelével para nos afirmar e para nos negar nesse pedaço Salvador - Recôncavo...


Não posso sair do estado de poesia: seguro no violão que não toco, disperso em sonoridades que não emito; mas, imaginariamente reverente e agradecido... Esta trajetória individual que se tornou coletiva para os humanos que entendem a imprecisão de se nascer baiano à luz negro-azulada luso-africana e indígena, inventada nas ruas num tempo, em que um valentão esculpia a beleza amalgâmica e rara da Cidade da Bahia.

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